Exposição

073_400_01 Na manhã do dia 13 de outubro de 2005, alunos da USP, graduandos do curso de História do Brasil Independente II, ministrado pela profa. Dra. Zilda M. G. Iokoi, chegaram à cidade de Cocorobó, distrito de Canudos, interior e sertão da Bahia.

Preparados e armados apenas com leituras e discussões acadêmicas, a viagem ofereceu a todos uma insubstituível experiência: a realidade que conhecíamos apenas por livros se mostrou mais diversa e, de certo modo, mais complexa e contraditória. Novas versões sobre questões centrais da história de Canudos nos foram dadas. E, longe de vermos uma região traumatizada pela guerra, fome e seca, prestigiamos uma pequena cidade bem mais diversificada, “colorida”, que convive, sim, com a seca e o sol forte diariamente, mas aliviada sobremaneira pelo açude tão condenado pela historiografia.
 
A duração da “5a. Expedição” – o título se deve a crença que observamos na região a qual dizia que uma 5a. expedição militar ainda poderia se realizar, mesmo que o arraial tivesse sido completamente destruído -, foi bastante curta, mas ofereceu a todos uma vivência que nenhuma sala de aula, nenhum livro, por melhor escrito (e lido) que fosse poderia oferecer, e que é passado aqui, para que o mesmo conhecimento seja repartido, contribuindo para o debate, sempre polêmico de alguma forma, sobre o Arraial de Canudos.
 
A presente exposição visa demonstrar o pouco do que foi visto em Canudos ao longo de dois dias e meio pelos alunos, os quais registraram diversas imagens e depoimentos. Mais do que isto, procuramos aqui contrastar este material, principalmente iconográfico, com a produção de diferentes épocas, buscando demonstrar diferenças entre as formas de representação oficiais e tradicionais, com as alternativas trazidas pelos alunos.
 
 
 
A Fotografia, a História e Canudos.080_400
 
 
A fotografia tal como a concebemos atualmente tem suas raízes num contexto de alta demanda por mecanismos que pudessem satisfazer aos anseios de uma Europa positivista, preocupada com a representação fiel e objetiva da realidade, neutra da subjetividade artística e das intenções político-ideológicas de qualquer indivíduo. A contínua descoberta de técnicas propiciadas pela Revolução Industrial, ligada direta e indiretamente às pesquisas nos campos das ciências naturais e exatas, hegemônicas durante todo o século XIX, unidas à forte demanda intelectual, são fatores que darão condições para o surgimento da fotografia e da máquina fotográfica.
Instrumento inicialmente caro, é considerado estratégico desde a sua criação e, não à toa, será abundantemente utilizado pelos centros de poder, especialmente nos meios militares. Diante de guerras mal justificadas, sempre danosas e questionáveis em termos econômicos e humanos, deter o controle do que será transmitido e imaginado sobre tais acontecimentos se tornará ponto vital de qualquer governo. Assim, a fotografia, possuindo uma aura de verdade inquestionável, será tida como um instrumento preferencial de formação de opinião.
 
Os eventos de Canudos se enquadram perfeitamente neste contexto, o que é demonstrado nesta exposição através de imagens produzidas ao longo destes mais de 100 anos. Suas mensagens podem ser questionadas e contrapostas às produzidas pela “5a. Expedição”. Observamos, dentro de um campo ilimitado de discussões, como parte das imagens procura geralmente retratar Canudos e seu símbolo maior, Antônio Conselheiro, como derrotados, mortos e destruídos, à despeito de imagens de soldados bem trajados e postados. Da mesma forma, observamos a continuidade do uso de certos aparatos técnicos e estéticos que potencializam e direcionam sobremaneira, por vezes injustamente, o sentido de uma mensagem que se deseja transmitir, como é o caso da foto em Preto e Branco (PB). Freqüentemente utilizada pelos fotógrafos contemporâneos, já com um sentido diferente ao da simples falta de recursos técnicos de outrora, ela é propositalmente utilizada para possibilitar ao leitor a visão de personagens serenos diante de uma dada realidade, carregada de paisagens tristes e desgraçadas pela seca.
Ironicamente também por falta de recursos técnicos, a “5a. Expedição” somente pôde produzir fotos em Cores. Assim, sem o tradicional PB, pudemos perceber outras cores, e diversificar as paisagens e temas: junto com o espinhoso e pedregoso local da trágica guerra (hoje Parque Estadual de Canudos), também o azul das águas do açude e o verde que o rodeava; os bodes, animais comuns da região; as flores; as crianças curiosas; a população morena, negra, branca.
 
O Grupo:
 
Augusto Calil; Michel Sorci; Deise Mezini; Célio Sales; Mariana Cordeiro; Mariana Caldin; Raquel Scarpari; Daniel (Tatu).
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A exposição:
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